Inquieta incógnita

Ah, a solidão que se agiganta
Nesses gestos,
De desleixo e beleza!
Buraco negro, pulsão de morte
No afago, caótico,
De teus cabelos.
A mania que têm as mulheres
De serem belas em curtos atos.
Ação lenta, concentrada,
Fios trançados,
Dedos que se dobram.
Clamor do inferno,
Promessas do paraíso,
Paradoxo.
Tua cor, perfeita.
E óbvio: indiferente.
Arma, espinho, defesa
Contra olhares indigestos
De tímidos poetas.
Matéria de versos,
Carne indiscreta.
Se não me faltasse ar,
Por tua presença,
Gritaria: para!
Cessa o hipnótico trejeito,
Deixa de existir!
Arranca de mim, com beijos
E tuas mãos mágicas,
Tão inútil existência!
Só uma coisa não é possível,
Tu, tantas vezes passageira:
Que existamos ambos
Numa sala de espera.
A espera que, cruel,
Se aconchega.
Viro-me um instante,
Rasgo esta página?
Entrego a ti no papel,
Meu coração pulsante?
Nem hesitar,
Neste mundo veloz,
É possível.
Nem sonhar romances.
Partiste, fantasia solitária.
(minha, sempre)
Mataste, sem saber,
O hipotético amante.


Caio Lobo (Recife, 1979). Colunista da Philos, é formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Leitor compulsivo e romancista. Lançou recentemente os livros Trôpegos visionários (2016) e Liberdade (2017) pela editora Kazuá.


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